Atual campeão teve uma semana de treinos cheia de acidentes, mas cumpriu seus programas e conquistou título consecutivo. Cha Jun-hwan deu à República da Coreia sua primeira medalha no masculino em Mundiais. Ilia Malinin terminou em terceiro.
Quando tudo acabou, Uno Shoma estava no centro do gelo, esparramado de costas.
Mas foi uma comemoração, não uma derrota: o atual campeão mundial superou problemas no salto e uma lesão no tornozelo no início da semana para garantir seu segundo título consecutivo no Campeonato Mundial de Patinação Artística da ISU (sigla em inglês para a União Internacional de Patinação - International Skating Union), em Saitama, Japão, no sábado (25 de março).
Uno não foi perfeito em sua apresentação livre, mas não precisava ser: o três vezes medalhista Olímpico agora bicampeão mundial acertou cinco movimentos e construiu a liderança no programa curto. Ele totalizou 301,41, dando a ele uma vitória de cinco pontos de vantagem sobre Cha Jun-hwan, que deu à República da Coreia a sua primeira medalha no masculino em Mundiais, em sua melhor marca da carreira, de 296,03.
O estadunidense Ilia Malinin terminou com o bronze com 288,44.
O triunfo de Uno encerra um Mundial inesquecível para o Japão: ele se junta a Sakamoto Kaori (individual feminino) e ao par formado por Miura Riku/Kihara Ryuichi como campeões Mundiais em evento organizado no próprio país. Também encerra uma temporada de ouro para Uno, que venceu todos os eventos em que participou.
A última vez que um campeão individual masculino venceu diante de sua torcida foi em 2014, quando o bicampeão Olímpico Hanyu Yuzuru triunfou no mesmo lugar - a Super Arena de Saitama. O Japão também venceu no individual feminino daquele ano, com Asada Mao.
"Estou absolutamente emocionado ... esta apresentação livre estava longe de ser perfeita, mas foi o melhor que pude, dada a minha situação", disse um honesto Uno após a vitória. "Foi preciso dar tudo o que eu tinha e puder tornar isso possível. Para ser honesto, não me saí bem em competições internacionais em casa no passado e estou muito feliz por finalmente ter conseguido. Significa muito", acrescentou.
Uno, de 25 anos, patinou com uma lesão no tornozelo que o tirou de uma sessão de treinos no início da semana, enviando manchetes estarrecedoras para todo um país louco por patinação, sobre uma hipótese de que ele poderia não estar apto para competir. Mas ele esteve, com uma apresentação impecável no programa livre, se desdobrando com a mesma sedosa suavidade, marca registrada da sua patinação.
Os veteranos Kevin Aymoz (282,97) da França e o estadunidense Jason Brown (280,04) acertaram quatro de cinco manobras em duas exibições de encher os olhos do público no início das finais do masculino, enquanto Tomono Kazuki do Japão recuperou-se em tempo para terminar em sexto (273,45).
O canadense Keegan Messing, em seu último Mundial, terminou em sétimo (265,16).
Há um ano, o título mundial do Uno veio após a medalha de bronze Olímpica. Ele venceu em Montpellier, na França, sobre o também japonês Kagiyama Yuma para o seu primeiro título mundial, colocando abaixo quaisquer dúvidas que os compatriotas Kagiyama ou Hanyu haviam lançado sobre ele.
Essa vitória se tornou um prenúncio para sua campanha de 2022-23, que foi dourada do início ao fim.
"As duas últimas semanas foram bastante desafiadoras para ele", explicou o técnico Stephane Lambiel. "No final, foi importante para para ele patinar da maneira que fez. Hoje, o que ele conseguiu é simplesmente inacreditável. Sou um treinador muito feliz."
Em Saitama, Uno voltou a agravar uma lesão no tornozelo que já vinha gerindo e, na terça-feira (21), deixou dúvidas sobre a possibilidade de dar o seu melhor neste Mundial. "Não me sinto muito bem com minhas chances", disse ele para a imprensa japonesa.
Depois de liderar o programa curto com um 104,63, Uno deu o máximo novamente na apresentação livre, concentrando-se em uma aterrissagem com os dois pés em seu segundo salto, um Salchow. Segurou-se então mais tarde para um giro quádruplo na ponta dos pés, onde colocou apenas um dedo, mas o geral da sua apresentação não colocou em cheque o seu desempenho.
A multidão japonesa o incentivou e depois o treinador Lambiel comunicou sua pontuação: "Maravilhoso, maravilhoso! Você é o melhor. Você é o verdadeiro campeão, bicampeão mundial."
Embora isso agora seja verdade, a pressão foi aplicada sobretudo pelo atleta Olímpico em duas edições Cha, que estava comprometido com cada elemento da sua apresentação livre.
Cha, de 21 anos, superou o recorde de sua carreira em Beijing 2022 (onde foi quinto) por cerca de 14 pontos, dizendo depois: "Não pensei no resultado, só queria mostrar o que tenho treinado. Dei tudo para o público e juízes. Estou totalmente feliz com este resultado."
Malinin, de apenas 18 anos, conseguiu seu histórico Axel quádruplo para abrir seu programa livre, mas foi delicado em vários outros saltos quádruplos, perdendo pontos críticos no quesito "Grau de Execução", que o impediram de ir além do terceiro lugar. "Achei que poderia ter sido muito mais limpo", disse ele. "Garanti meu lugar (entre os melhores do masculino). No próximo ano será mais proveitoso desenvolver o lado artístico da minha patinação", disse Malinin.
"Para patinar nesta arena, com esta atmosfera, no meu último Campeonato Mundial, eu não poderia ter pedido algo melhor." Essas foram as palavras do canadense Messing, que disse no início desta temporada que seria esta a sua última.
Em quarto lugar após o programa curto, ele não potencializou suas manobras de abertura e, em seguida deixou um salto Axel. Mas o que realmente custou a ele foi tropeçar ao se preparar para um elemento de rotação, registrando nenhum ponto por isso.
No entanto, seu esforço foi inspirador, assim como muitas das apresentações dentro de uma area lotada, principalmente Jason Brown - que patinou primeiro no grupo final - e depois Kevin Aymoz.
"Eu me diverti muito lá fora hoje", disse o estadunidense Brown, que não competia internacionalmente desde os Jogos do ano passado. "Eu levei esse desempenho passo a passo. Eu estava tentando não me adiantar. Fiquei no momento e fiz o trabalho desta noite. Não sabia depois da última temporada que voltaria a uma arena competitiva."
Foram dois anos turbulentos para o francês Aymoz, que lidou com uma série de lesões antes de Beijing 2022. Quando sua pontuação saiu, ele saltou da sua cadeira, agarrando a técnica Silvia Fontana em uma exuberante demonstração de afeto e gratidão. Seu quarto lugar supera seu recorde anterior em Mundiais - fora nono em 2021.
"Estou confuso... não sei o que está acontecendo. Estou vivendo um sonho", disse um expressivo Aymoz. "Estou tão orgulhoso de mim mesmo; não sabia que poderia fazer isso, então estou muito feliz. Eu estava no momento. Eu estava determinado."
Determinado também caracteriza Tomono, japonês de 23 anos que registrou seu terceiro resultado entre os seis primeiros (foi 5º em 2017 e 6º em 2022) em Mundiais. Sua patrinação livre Die Fledermaus Overture levantou a multidão, com muitos torcedores segurando cartazes vermelhos com o seu nome.